domingo, 4 de março de 2012

Ponta pé inicial do MOVA-CE

                                          The Good Gardem em Aracaju.

       Para a banda The Good Gardem o projeto MOVA-CE iniciou no ano de 2007 com o envolvimento da CUNDER (Cooperativa Underground – que é um trabalho coletivo começado em 2003, com a reunião de diversas bandas de rock do bairro do Bom Jardim em Fortaleza, sendo idealizada e sustentada pela banda desde então.) com outros produtores, associações, movimentos, DJs, Bandas e agitadores culturais da cidade, na primeira tentativa de trabalho conjunto que envolvesse toda Fortaleza em prol da cultura underground, sem preconceitos de estilo/financeiro, que resultou em um seminário e um festival chamado SOMA.
                                            Festival Panela Rock 2007


       Dentre todas as pessoas que pudemos conhecer nesse período de reuniões, discussões, planejamentos e busca de apoio para nossa causa, as que mais tivemos acesso foram o DJ Dado Pinheiro (organizador do projeto Noise3D em Fortaleza.) cara ainda muito atuante na cidade, além de ótima pessoa. O Tanisio Vieira (professor, músico e como ele mesmo se intitulava agitador cultural.), cara super importante nesse processo por sua capacidade de comunicação e de sua honestidade. E o Talles Lucena (professor, produtor, músico.), cara que é uma das jóias mais preciosas dentro do rock cearense por tudo que fez, faz e tenta fazer.

       Através desses contatos que mantivemos na época, é que fomos convidados a comparecer no festival Panela Rock 2007 que foi realizado no ginásio da Parangaba. Só a realização do festival já dava um ar de diferença na forma daquele novo trabalho, pois antes, onde sempre se realizavam as atividades na Praia de Iracema, naquele momento as coisas se afastaram um pouco e já era bem mais próxima a nossa realidade de periferia, não que isso seja uma prerrogativa de se só valorizar ou realizar atividades nas periferias, mas aparenta uma mudança na valorização do que é feito aqui e isso para o que já vínhamos fazendo dentro da Cooperativa era bastante interessante.

       Outro importante aspecto que hoje percebemos, foi à proximidade que sempre buscamos manter com outros movimentos, trabalhos e bandas de outras periferias, que nos tem como referencia na forma de valorização e da busca de uma identidade cultural significativa para a periferia. Exemplo foi o nosso primeiro contato com a banda Bonecas da Barra e do pessoal da Máfia da Barra, no próprio festival em 2007 que até hoje é de se impressionar com tanta afinidade nossos trabalhos são realizados, não conto às vezes já tocaram aqui e quantas já tocamos lá no bairro da Barra do Ceará em Fortaleza, nossos públicos se misturam e são de uma naturalidade tão especial que outrora viram amigos e isso nós é de uma satisfação imensa. A ponto dos caras na capa de seu CD – Não Esqueça a Anvisa, colocarem a logomarca da Cooperativa Underground sem que agente tivesse ajudado em nada na confecção do mesmo, isso não tem preço como diria aquele anuncio publicitário.

       A banda Inflame é outra que pela condição de ser a mais antiga do selo Panela Rock, sempre tivemos uma relação bem harmoniosa, com eles participando de algumas atividades realizadas por nos, que rendeu uma visita ao bairro do Edmundo na região metropolitana de Fortaleza mais especificamente no Acaracuzinho para ver outros festival e ser recepcionado pelo mesmo que passou tempo todo com agente trocando idéias (escrevo agente porque nesse dias estava acompanho de meu filho caçula, o Andrei de três anos na época) e tivemos tempo para fortalecer essa amizade nessa viajem de mais de 30 dias pelo Brasil a fora.

       Já com a banda Sátiros, a relação sempre foi mais próxima com o Álvaro pela questão do cara gerenciar toda a parada do estúdio, então sempre estávamos em contato, mas que antes já havia participado da Edição de 2010 do Festival Rock Até Os Ossos, com participação na coletânea de áudio do evento. A figura do Ravel Holanda se fortaleceu nas reuniões do MOVA-CE e já bem depois na visita que a dupla vez em minha casa no segundo Rock na Laje (nem que tenha sido no finalzinho por conta de problemas na Gravação do CD – As Ruas transmitem Amores).

       A banda Thrunda (que ninguém ouse perguntar o significado) era pra mim a mais afastada e de alguma forma teríamos que aproximá-los e tentar também valorizá-los por “n” aspectos os caras também são da periferia (no caso outra banda do bairro da Barra do Ceará), mantém um trampo ininterrupto por dez anos em Fortaleza com Punk Rock, e o mais importante, depois de saber da história de vida do Rodrigo Monte que é toda entrelaçada com a questão do gênero, posso dizer eles possuem mais um fã independente de qualquer coisa, não só da banda, mas dos caras.

       Já a Full Time Rockers desde 2007 que tenho maior contato com o Talles Lucena, Rafael Vasconcelos e Boção são bem mais recentes na banda. Rafael só o conhecia como Balboa (o rei das bandas covers), e ver o cara se dedicando a ser ele mesmo Rafael Vasconcelos é como se toda aquela luta de valorização do autoral desde o inicio tivesse dando frutos, e que fruto. O cara é um músico de primeira linha que logo, logo terá destaque nacional em seu projeto de blues. Boção conserva a mesma selvageria de quando o vi tocar pela primeira vez em 2008 no Festival Rock Até Os Ossos aqui no Bom Jardim com a Drive Sex. E o que dizer de Rildney Bixin? Cara é foda, dá espetáculo de tocar bateria, é o motor da banda mesmo com os dedos mazelados.

       Deixei Talles Lucena separado porque é importante citar outros aspectos do cara que muito me deixam orgulhoso de chamá-lo de amigo. Um dos caras mais justos e sinceros que conheço, manter aparências para ele é uma coisa bem complicada (mesmo quando lhe é conveniente), cara sabe a medida certa de dedicação e comprometimento com a cena, e por ela as vezes sacrifica a própria banda, coisa que já aprendemos (The Good Gardem) a fazer a algum tempo, seria importante um artigo só para esse assunto para galera mais jovem que só pensa em tocar, ir logo aprendendo (é claro os que querem alguma coisa a mais). O cara que abre as portas de sua casa e sem medo compartilha da intimidade de sua família, pra mim não existe prova maior de confiança e transparência.

       Vou aos poucos deixar aqui relatos do diário de bordo da turnê MOVA-CE que por mais de 30 dias rodou as estradas do Brasil levando a música cearense e mais especificamente do bairro do Bom Jardim em Fortaleza.


Cicero Alexandre.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Então MOVA-CE!

       



        Já na chegada passo a pensar, recordar e ter saudades dos malucos que passaram ao meu lado mais de um mês compartilhando de tudo um pouco, mas sei que assim que eu queira matar essa saudade será bem mais fácil, sei que nas imediações ali entre a Rua Costa Mendes no Bar da Preta (cerveja mais gelada de Fortaleza) e a esquina entre a Av. João Pessoa (onde situa-se o Selo Panela Rock) sempre estaremos nos encontrando não sei se todos ao mesmo tempo, mas estaremos.

        Mas agora? E aqueles novos amigos e amigas que deixamos pelas cidades que visitamos, tocamos, abraçamos, bagunçamos e sorrimos juntos?

        Ao ver a trazeira daquele ônibus MOVA-CE, as lágrimas que rolavam eram pelos amigos que estavam ali pertinho e pelos que deixamos pelo caminho pela impossibilidade de trazermos todos dentro de um mesmo transporte, mas carregamos cada um, divididos em vários corações, mentes, câmeras digitais, celulares.
        A vivência que foi construída através do contato, da proximidade com a diferença, da distancia com o que já lhe é rotineiro, da observação, da divergência de opiniões e do afastamento do que foi bom ou “ruim” é que vamos construir e significar a importância de um feito desta magnitude.

        Como no Ceará existe sim uma tremenda dificuldade de valorização do que é seu, pelo ar de comédia e de escárnio que nos é característico, talvez esse reconhecimento terá a mesma dificuldades encontrada pelo chamado Pessoal do Ceará nos anos 70, porém com um agravante, nossa forma de expressão artística é considerada por muitos pseudo-intelectuais e críticos, como música de sub-guetos ou nichos, mas com a experiência da turnê MOVA-CE, nós podemos reconhecer que nossa arte, nossa linguagem, é comum a diversos estados, culturas, classes sociais. O discurso que vou chamar de Bloqueador de Sonhos, que muito tem aqui na cidade, ou no estado. Não nos afetará tanto assim, mesmo que as conseqüências dele ainda recaiam sobre nós como já é costumeiro.

        E para você que acredita no seu sonho, tem algo a dizer, e mesmo estando representado nesse ônibus não se sentia parte dele, não deixe qualquer BLOQUEADOR DE SONHOS te parar, então MOVA-CE.

 
 
Cicero Alexandre.